Depilação facial para mulheres transgênero
Uma pele lisa sem qualquer vestígio de barba ou pelo é muito mais do que um objetivo estético. Para muitas mulheres transgênero é um marco fundamental na transição, ajudando-as a se sentir finalmente confortáveis na própria pele. Junto com a terapia hormonal e a intervenção cirúrgica, a depilação facial é considerada um aspecto médico essencial na redesignação sexual. No entanto, para a maioria das mulheres transgênero, a remoção do pelo não vai fundo o suficiente.
As mulheres transgênero são o único grupo-alvo que requer tratamento especial? Na verdade não, dizem os especialistas. O Dr. Müller-Steinmann, diretor médico do Kiel Dermatology Center, tem uma maneira única de descrever isso: “Se não é óbvio pelo nome informado no registro, eu pergunto à paciente como ela gostaria de ser abordada e geralmente é como qualquer outra mulher. Após o longo processo de transformação, muitas se sentem no limite. Elas passaram por experiências ruins e só querem ser tratadas de maneira normal e igualitária.
Criar um ambiente de apoio é importante
No entanto, é ainda mais importante criar uma experiência de bem-estar para mulheres transgênero: “Infelizmente ainda existem muitas situações em que essas mulheres são olhadas de forma estranha. Quando chegam até nós, elas geralmente ainda estão no início de sua transformação externa, mas já percorreram um longo caminho e passaram por maus momentos psicologicamente falando”, explica Maria Schneider, esteticista na Laser One, em Berlim. “Eu trato essas clientes de maneira totalmente normal, então comigo eles podem se sentir aceitas como mulheres.
Em outros lugares, elas geralmente não são aceitas por quem são, especialmente em um ambiente profissional — e isso requer uma certa sensibilidade”, adiciona Fatima-Zahra Bourakkadi, esteticista na clínica Docure, em Berlim. Yasemin Apaydin, proprietária da Yasi Cosmetics, em Nuremberg, chama isso de “acariciar a alma”. “Aceitá-las por quem elas são cria uma base de confiança fundamental. Eu digo a elas: eu não me importo com o seu trabalho ou a sua sexualidade. Você quer se livrar dos seus pelos e eu estou aqui para isso!”
Depilação a laser ou por eletrólise?
É bastante comum ver alguns sites mencionarem a eletrólise como método adequado de depilação para pessoas transgênero, já que essa é a opção preferida de algumas empresas de seguro saúde. No entanto, esse procedimento consome muito tempo, já que exige que cada pelo seja tratado individualmente, raiz por raiz.
A eletrólise também costuma ser associada a custos mais altos no tratamento. Além disso, quando se trata de depilação facial, ela é significativamente mais dolorosa em comparação com os dispositivos de depilação a laser, especialmente nos tratamentos para transição MTF. “As seguradores de saúde geralmente pagam pela eletrólise, um tratamento que pode causar efeitos adversos graves como queimaduras, lesões ou cicatrizes. O tratamento a laser é muito mais rápido e suave”, diz Fatima-Zahra.
De acordo com Yasemin, a eletrólise é particularmente inadequada quando se trata de remover a barba inteira. “É claro que a eletrólise funciona, mas minhas clientes sempre me dizem que é extremamente dolorosa e praticamente impossível de tolerar na remoção da barba inteira. Eu a vejo mais como um tratamento complementar, excelente para um único pelo mais persistente ou fios grisalhos que não respondem ao laser.” Ela acrescenta ainda: “A barba de um homem é ainda mais difícil de remover do que a de uma mulher transgênero. Assim, o uso de um laser avançado como o Soprano Titanium da Alma é uma solução adequada para esses pacientes.”
Além do pelo facial, que outras áreas podem ser tratadas?
No começo do tratamento, as primeiras sessões se concentram na remoção dos pelos em áreas imediatamente visíveis, como rosto, pescoço e, se necessário, mãos. “Normalmente, segue-se depois para o colo ou peito, abdômen, área genital e pernas. Em outras palavras, de cima para baixo”, diz Fatima-Zahra.
A situação financeira das mulheres também desempenha um papel importante aqui, porque “a depilação do corpo nunca é coberta pelas empresas de seguro saúde ou planos de saúde, mesmo essas regiões sendo importantes para que elas se sintam realmente mulheres e se apresentem assim”, explica o Dr. Müller-Steinmann. “Na minha experiência, muitas dessas mulheres têm uma situação profissional e financeira difícil e o crescimento do pelo é uma carga adicional para elas. Seria bom se as operadoras de saúde reconsiderassem essa postura.”
Quando a paciente deve iniciar o tratamento?
A depilação deve começar relativamente cedo no processo de transição. De acordo com Fatima-Zahra, “recomendamos iniciar o tratamento quando os hormônios começam a mostrar efeito, o que varia muito de mulher para mulher. A cirurgia de redesignação é uma etapa posterior no processo, então as mulheres ganham realmente muita feminilidade aqui.” Os hormônios afetam o crescimento do pelo, mas é pouco provável que eles tornem o tratamento desnecessário, eliminando a barba completamente.
Incidentalmente, os hormônios geralmente não levam a efeitos colaterais com o tratamento a laser. A mulher não se torna mais sensível à luz, e não foram observadas complicações de pigmentação ou problemas relacionados. “Os hormônios tendem a ajudar o tratamento a laser, pois o pelo se torna mais fino ao longo do processo”, diz Maria. “A barba de um homem é ainda mais difícil de remover do que a de uma mulher transgênero.” No entanto, Yasemin Apaydin sempre oferece um tratamento teste e começa com uma intensidade de energia mais baixa na primeira sessão. “Se a cliente tolera bem, eu aumento a intensidade na sessão seguinte.”
* Cobertura da apólice de seguro
A situação legal relativa à cobertura de seguro é particularmente complicada. Nos últimos anos, houve repetidas sentenças afirmando que as seguradoras de saúde têm que arcar também com os custos do tratamento a laser em institutos estéticos. No entanto, na prática, cada caso requer sua própria aplicação e aprovação individual.
As chances são melhores se o tratamento for realizado por um médico, “mas considerando que, no passado, os custos de depilação a laser na área da face/pescoço e nas mãos eram adequadamente cobertos pelas seguradoras de saúde, já faz um certo tempo que temos que cobrar esse serviço usando um código especial na tabela de taxas médicas (GOÄ), que nem ao menos cobre as despesas. No meu ponto de vista, isso faz com que a realização do tratamento sob a cobertura de seguros saúde perca totalmente o apelo para os dermatologistas”, explica o Dr. Müller-Steinmann.
A burocracia torna isso ainda mais difícil para essas pacientes
“A maioria das nossas clientes está consciente de que dificilmente as seguradoras de saúde vão cobrir os custos”, diz Maria Schneider. “A mulher assume ela mesma esse grande investimento porque a situação é muito estressante.” Além disso, é necessário um trabalho extremamente burocrático e demorado.
“É frequente descobrir que essas mulheres simplesmente não têm paciência e força para lutar contra as autoridades. É difícil para elas preencher os complicados formulários de solicitação, e mais ainda passar por todo esse processo e ter que lidar com a decepção do pedido ser rejeitado”, diz Yasemin. “É preciso ter nervos de aço e muitas simplesmente não tem essa força toda nessa situação. Elas passaram por uma longa provação, ainda passam por circunstâncias difíceis, sofreram muitas experiências ruins… Elas apenas querem ter o direito de finalmente serem mulheres.”
Além de reconhecer a depilação a laser como um método moderno com poucos efeitos colaterais, Fatima-Zahra Bourakkadi acredita que isso seria um passo importante para as empresas de seguro saúde. “Seria altamente benéfico cobrir o tratamento independentemente do profissional, para que as mulheres pudessem escolher um lugar em que confiem, em vez de simplesmente serem encaminhadas a um profissional. Uma regulamentação universal e moderna seria realmente muito útil.”
Qual é a melhor maneira das clínicas divulgarem esses tratamentos?
Para a mulher transgênero, o boca a boca é muito importante. “É uma comunidade muito unida. Se uma cliente tiver uma boa experiência com o tratamento, ela vai recomendar para outras e novas clientes continuarão vindo”, diz Fatima-Zahra. Faz sentido realmente chamar a atenção para este serviço em seu site, porque ainda há muito pouca informação online sobre depilação a laser para a comunidade transgênero. Falar diretamente para a mulher pode ajudar a aliviar os medos delas, porque a partir disso elas sabem que podem ser apenas elas mesmas.
“Dê o primeiro passo”, incentiva Maria. É animador demais ver como a pessoa muda como um todo como resultado das mudanças no corpo. Eu já percebi que quanto mais felizes e autoconfiantes elas se tornam, mais elas se apresentam como mulheres. E é realmente muito bonito acompanhá-las nessa jornada.”
A coautora, DÖRTE BOSSE, é esteticista e gerente de treinamento clínico na Alma Beauty. Artigo publicado originalmente na revista DACH, BEAUTY FORUM, edição 5/2020, na Alemanha.
*Para leitores de outros países, note que as regulamentações relativas a seguros e saúde diferem de um país/território para outro. Todas as informações acima são relevantes apenas especificamente para a Alemanha.